quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A CULTURA É UM LIXO EXTRAORDINÁRIO?

Mudou-se para a Espanha e lá se casou com um nativo ibérico, um espanhol. O marido dela sabendo pouco desta nossa Terra de Santa Cruz (Pelé, Amazônia, carnaval, essas coisas...), resolveu se achegar ao Brasil escolhendo uma vertente cultural: o cinema. Para conhecer como era o país da mulher amada, assistiu em uma sentada só “Carandiru”, “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”. Ficou pasmo.

-Um país muito violento, favela, corrupção, drogas, etc, como você sobreviveu lá!

Não é preciso dizer que ele choveu no molhado dos estereótipos, dos estigmas.

Vá lá que tudo isso que estão nos filmes existem, mas não é a regra geral.

Vejo isso como uma própria autocomiseração comercial do cinema brasileiro: explorar a dor e o sangue, afinal isso vende mais. E com isso também vendemos uma falsa identidade do país ao mundo.

Até a década de 1980 os filmes brasileiros tinham uma história pífia recheada de mulheres sem roupa (exceções claro, como “Terra em Transe”, “O Pagador de Promessas”, entre poucos outros). Recentemente, dois filmes fizeram sucesso no mundo afora, mas sempre ressaltando um ponto negativo tupiniquim: “O que é isso companheiro?” (corrupção, ditadura, bandidagem) e “Central do Brasil” (analfabetismo).

E de novo volta à tona mais um estereótipo.

Eis o concorrente ao Oscar, o documentário “Lixo Extraordinário”, com uma temática que tende a novamente criar distorções sobre a generalidade do povo brasileiro.

O problema social do lixo é grande, ambiental nem se fala, pois poucas cidades têm aterros sanitários adequados. Mas percebo que está na hora de vendermos nosso peixe em histórias mais particulares sem fundo sócio-escatológico. Temas que ninguém lá fora tenha opinião estigmatizada, formada.

A arte, o cinema e a cultura são meios de denúncia e de critica social, mas não podemos ser sempre “o bicho feio enjaulado em um zoológico de horrores”.

Tolstoi disse: “cante tua aldeia e serás universal”. Cantemos no cinema e nas artes, o que está por detrás das jaulas, dos estereótipos. Cantemos a beleza das histórias da nossa riqueza cotidiana positiva, mesmo que isso venda menos que a dor e o sangue.

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