ENTREVISTAS

PERGUNTAS
para
ZENAÍDIO PEREIRA MELO

ZENAÍDIO PEREIRA MELO é mineiro de nascença (do município de Coração de Jesus) e de coração, é peabiruense. Chegou por estas bandas em 1957, aos 11 anos de idade, e trabalhou arduamente nas roças da Gleba 7 durante 5 anos. A mãe e pai não tinham a instrução da escola, mas tinham a sabedoria da vida, e vislumbrando o futuro, trabalharam para que Zenaídio e sua irmã Eliza estudassem. Da vertente musical, fez parte do grupo musical “OS MAGNOS”, percorrendo o Estado do Paraná e outros. De Peabiru, os caminhos o levara a Iretama-PR, onde se tornou nas décadas de 1970 e 1980, Secretário Municipal de Educação. Comandando grande equipe, tinha sob sua batuta mais de 3.000 estudantes. Visionário, com um olhar sempre a frente dos demais, sabia que a educação e a cultura eram fortes instrumentos de mudança e progresso. Assim, criou escolas na zona urbana e rural, a Casa da Cultura e a Fundação Cultural desta cidade, além de sempre fomentar atividades culturais neste município. Foi professor e depois dos cargos públicos, sem nunca abandonar a música, empresariou valores musicais por todo o Paraná e São Paulo. Hoje, de volta a Terra Vermelha de Peabiru, dedica-se a cultura, a poesia, a música, sendo um dos criadores da APDARTES e do IMOC (Instituto Multiartes de Oficinas Culturais). Zenaídio Pereira Melo tem vários livros na esteira de publicação, como a epopéia “A Viagem dos Sonhos” onde um casal norte americano em viagem de lua-de-mel percorre um cenário riquíssimo conhecendo o potencial turístico, econômico, social e cultural do Brasil juntamente. Confira a seguir a entrevista que este ícone das artes nos concedeu:

01- Quando você veio para a cidade de Peabiru?
R- Vim para a cidade de Peabiru em 1962 (na zona rural cheguei em 1957), onde estudei a 4ª série primária com 16 anos, naquela sala onde funciona hoje a secretaria da Escola Paulo Freire – Era lá a antiga Escola de Aplicação onde eu estudava.

02- Como foi a sua vida profissional e social?
R- Trabalhei em oficina mecânica, vendi pão e tomate na rua, fui ajudante de pedreiro e carpinteiro, furei fossa; fui pacoteiro da Loja Pernambucanas, trabalhei no comércio de secos e molhados etc. Eu trabalhava de dia e estudava a noite, e aos sábados dançava bailão de sanfona nas periferias: da Serraria dos Bananas e do Baiano dos Macacos e outros, onde tivesse.
03- E na Igreja qual foi a sua participação?
R- Participei da primeira equipe litúrgica dessa Diocese, criada em Peabiru no ano de 1965 pelo saudoso Prof. José Ferreira (poeta peabiruense que nos deixou há poucos anos) onde também em outra época fui Presidente do JACEP primeiro grupo de jovem de Peabiru, o Grupo que iniciou a construção do Salão Paroquial.
EPITÁFIO
“Cantei o canto dos cantos.
Fiz na vida o que pude
Bens materiais eu não valorizei
Mas preservei minha saúde
Principalmente a espiritual
Que o tempo não pode corroer
Essa é a minha maior riqueza
Que levarei quando morrer
Se um dia eu voltar ao mundo
Quero ainda preservar essa ética
Renascendo de um grande amor
Com a minha memória genética...”

04- E na área cultural você teve participação?
A nossa juventude graças a Deus era muito sadia, e promovíamos shows, desfiles de modas, teatros e musicais. O antigo cinema era o nosso palco e auditório. Fiz parte do primeiro conjunto vocal e instrumental de Peabiru, criado com incentivo do Braguinha (membro da APDARTES) e chamava-se OS MAGNOS dele faziam parte: eu Zenaidio, Carlos Figueiredo, Espedito Ferreira, Waldete Rodrigues, Janete Miranda e João dos Santos (in memórian) Tocamos muitos bailes e festas por esse Brasil a fora.
Ultimamente compus também os Hinos das Escolas: Paulo Freire; Darci Ribeiro e 14 de Dezembro.
05- Você foi professor também?
R- Formei-me em Contabilidade e Geografia, depois fui professor, fui Inspetor Estadual de Educação e também Diretor do Departamento de Educação e Cultura na cidade de Iretama-PR durante 12 anos consecutivos, criamos o Ginásio de Água Fria 5ª a 8ª séries, Ginásio de Marilú 5ª a 8ª séries, Colégio de Contabilidade, Magistério, Educação Geral e articulei as implantações do Projeto Logos II e da Fundação Cultural com todos os segmentos lá existentes.

06- E agora aqui em Peabiru quais são os teus projetos?
R- Com muita honra eu faço parte da APDARTES Associação Peabiruense para o Desenvolvimento das Artes e do IMOC - Instituto Multiartes de Oficinas Culturais.

07- Frente a sua participação no IMOC- Instituto Multiartes de Oficinas Culturais, como será o funcionamento desta entidade?
R- O IMOC sendo uma instituição a ser mantida com recursos públicos e doações da iniciativa privada funcionará em benefício de pessoas carentes com idade a partir dos sete anos; e deverá funcionar como central administradora de células de oficinas culturais montadas em pontos estratégicos desta cidade de Peabiru-PR oferecendo aproximadamente 25 opções de cursos na área cultural. Esta instituição tem como principal objetivo: criar oportunidades às crianças, jovens e adultos para que através das artes não busquem subterfúgios em atividades que os joguem na contravenção penal.

“Serão as portas do mundo moderno se abrindo em luz”...
Para aqueles que andam pelos caminhos da obscuridade...
Vendo a própria vida se apagar com a exclusão...
No campo da competitividade...”







S E T E
  PERGUNTAS PARA

FÁBIO SEXUGI

Fábio Sexugi (Campo Mourão/PR, 1980). Educador e professor de latim e italiano, nasceu poeta, mas só se deu conta disso em 2008, quando começou a publicar seus rabiscos. Paranaense de nascença e coração, o neopoeta é peabiruta, ou seja, peregrino do famoso Caminho do Peabiru, uma trilha indígena milenar que cortava o Paraná, ligando o Chaco Paraguaio ao litoral brasileiro. Fábio tenta encontrar na poesia aquilo que os índios buscavam percorrendo essa estrada sagrada: a Terra-Sem-Males, uma espécie de paraíso. Às vezes consegue achá-la (como quando venceu o IV Concurso Internacional de Poesia Latino-Americana na categoria "Espiritualidade") e fica contente. Quando não consegue, pára, ri de si mesmo, reflete um pouco, toma uma xícara de café (bem forte) e tenta de novo. No primeiro certame literário que participou, Sexugi obteve o 1º lugar, com o poema concreto "Xícara" no I Concurso Nacional de Poesia Caleidoscópio de Belo Horizonte. Amante da língua dantesca, foi selecionado para integrar a Antologia Comemorativa Ítalo-Espanhola dos 40 Anos do Prêmio Júlia de Gonzaga, do Castello di Fondi, no Lácio, bem como a Antologia Parole e Poesia das Edições Il Fiorino, da cidade de Módena. Em abril de 2009, conseguiu um feito inédito para poetas paranaenses: arrebatou o 1º lugar no Prêmio Primaverart, em Lecce, no Sul da Itália, onde também foi contemplado com o prêmio da crítica para a literatura.


1- João Cabral de Melo Neto disse que poesia é mais transpiração que inspiração. Escrever para você é um ato de prazer ou de dor?

FÁBIOEscrever é um parto: um processo que costuma ser complicado pra caramba e que requer do poeta as duas coisas, que se complementam. Digo isso porque já tentei escrever sem inspiração, contando apenas com a técnica. Não deu certo, porque, por mais esforço que se faça, é como parir um filho que não existe. É trabalho estéril. Não consigo escrever sem uma gestação literária, que pode durar um minuto, meia hora, sei lá, um mês. E também nesta gravidez há muito de transpiração, pois é nesta fase que o poema vai ganhando forma. Por outro lado, para que a inspiração lírica se concretize na musicalidade da palavra, na materialidade do papel, é preciso suor, sem o qual não se pode falar em fazer literário. A inspiração está por toda a parte. Prendê-la à letra é que são elas. Por isso, não acredito muito nessa idéia de composição poética passiva, como um ato de psicografia. O nascimento do poema é dolorido. Dolorido, mas agradável e instigante, porque nele, o poeta é filho, mãe, parteiro e o próprio parto ao mesmo tempo. Coisa de doido. De doido doído.

"Posto que sou asas
Sobrevôo-me
Eutmosfera"

2. Em algum momento você já pensou em parar de escrever, mandar as favas a força que te move a rabiscar os versos e calar-te?

FÁBIO: Eu sempre paro de escrever. Paro e escrevo de novo e paro mais uma vez. É que rabiscar é como o próprio coração que bate, mas, antes que bata novamente, há um momento de silêncio. Bate e pára e bate de novo. No ano passado, por exemplo, escrevi bastante. Em 2010, para poder me aventurar um pouco pelo universo do conto (que me exige mais tempo) tive que dar um tempinho nos versos. Mas, o que eu gosto mesmo de fazer é poesia. Às vezes, a pausa – necessária – acontece por falta de inspiração. Outras, como agora, por mera falta de tempo mesmo. É o sistema capitalista sufocando o poeta.

"Minha casa tem gosto de Carneiro ao Vinho,
Sabor sagrado, segredo sangrado no sul.
É terra rubra que pinta o pé pelo caminho,
é sossego, saudade e sol. É Peabiru."

3. Dostoiévski disse que ele acreditava em Deus, mas Deus não acreditava nele. Diante de sua poesia Parafina (premiada no Uruguai), onde se tece um breve tratado sobre a fé, a literatura universal pode fortalecer ou apagar a chama da fé?

FÁBIO: Para ser honesto, não sei se a literatura aumenta ou diminui a fé. Mas, uma coisa é certa: as letras certamente são capazes de nos tornar mais próximos daquilo que é sublime, transcendente, criativo: distintivos de Deus que se escondem em cada pessoa e que a literatura pode revelar. Acho natural que as coisas nas quais acredito, volta e meia, apareçam nos meus versos. Como católico e latino-americano, compus alguns poemas para a Virgem Maria, de quem venho aprendendo a ser devoto. Allah também aparece na minha poesia quando o sangue libanês fala mais alto. No poema Parafina, quis tratar de uma característica da humanidade que, desde que o mundo é mundo, se confronta entre a crença e a incerteza. É que eu encaro a dúvida, mais que um antônimo de fé, como um instrumento positivo que aproxima o homem e a mulher da verdade, da ânsia de querer saber mais, de conhecer além, de entrar em contato, de explorar aquilo que não é totalmente explorado. Há uma tendência histórica em mistificar a fé. Para mim, que tento me equilibrar sobre ela, existem muito mais mistério e poesia na dúvida que propriamente na fé. Duvida?

"Céu lustroso
sem nuvem alguma
Um grilo ocioso
conta as estrelas
uma por uma"


4. Dylan Thomas, Virginia Woolf, Hemingway, Silvia Plaft sucumbiram a sua tragédia interior: partiram cedo pelo álcool ou deram fim a vida. Diante deste quadro, o escritor é um super-heroi dotado de visão raio-x, de poderes diferenciados ou é um simples homem-comum-covarde?

FÁBIO:Quem escreve tem, por natureza, uma sensibilidade mais acurada que as outras pessoas. Para o escritor, um amor é sempre intenso e uma dor é dor aguda, ainda que às vezes, como definiu bem o Pessoa, seja só fingimento. Mas o fato é que essa exposição mais violenta aos sentimentos – ou mesmo, à ausência deles, ao tédio – faz com que alguns se submetam ao extremo, tirando veneno dos próprios versos. Também o leitor está sujeito a isso, infelizmente. Assim, quem doma a palavra tem nas mãos uma responsabilidade terrível. Não vejo lirismo nas sombras e acho que não vale a pena compor poemas demasiadamente melancólicos, tristes. É a vida o que conta! Por isso, tento escrever poemas mais solares, alegres, que sintetizem o encanto que existe nas coisas simples, corriqueiras. Acho linda a história de uma moça depressiva que desistiu do suicídio depois de ler "Prece" da Helena Kolody, minha poetisa favorita. E isso é muito poético. Assim, quando a letra muda positivamente a vida de alguém, então, o autor pode se considerar um sujeito privilegiado, um herói.

"Quero escrever a palavra mais linda
e deixar pelos muros versos suaves
Quero entrar na casa da poesia
e da janela translúcida, intruso,
olhar o mundo além dos horrores."


5. O escritor russo Isaac Bábel disse que “nenhum metal pode perfurar o coração com tanta força quanto um ponto final”. Neste sentido, como escritor, que poderes você atribui a palavra escrita?

O primeiro poder da palavra escrita é o de comprometer o escritor, porque, ao escrever suas idéias, é a si mesmo que ele aprisiona ao papel. Talvez seja por isso que poucas pessoas escrevam, já que quem se atreve a redigir duas linhas num bilhete de geladeira ou mesmo um livro inteiro arrisca-se, prende-se e fica sujeito à livre interpretação e avaliação do leitor. Sócrates nunca escreveu. Buda também não. Jesus não deixou uma única página escrita. Terá sido porque a escrita seja mesmo uma algema? Seja como for, escrever, como já me disseram acertadamente, é para os loucos que, como eu, teimam em registrar sua percepção do mundo. É loucura porque a palavra escrita é perigosa. E isso é, aliás, o que mais me atrai nela. É perigosa porque, por mais cuidado que se tenha, o autor nunca sabe bem que destino terá sua cria ao ser captada e avaliada pelas pessoas. Outro poder importante da escritura, principalmente na era digital, é a de corrigir estruturas sociais freqüentemente injustas e incomodar, se necessário, até mesmo os tiranos poderosos. A extraordinária força evocativa da palavra escrita dá ao autor essencialmente a possibilidade de ser sentido no espaço e no tempo e de penetrar o imaginário do leitor. Eu gosto desse poder.

"Sopra, brisa pungente, minha vela reclusa!
E move esta nave donzela a epopéias bravias
para as águas gestantes de vãs poesias,
para os mares sedentos desta proa intrusa"

6. Ler e escrever nos permite viajar sem sair do lugar. O que você sentiu ao transgredir essa regra, pois literalmente a literatura permitiu que você viajasse saindo do lugar (Itália mostra)?

FÁBIO: Foi uma experiência inesquecível ter sido premiado na Itália no ano passado. Se já é bom ser contemplado na própria pátria, imagine ser reconhecido num país estrangeiro por composições num idioma que não é sua lingua materna. Os dois prêmios (melhor produção artística do certame e prêmio da crítica pela literatura) que recebi em Lecce (conhecida como "Città d’Arte" e fundada há mais de 2000 anos) tiveram para mim um peso maior, não só porque eu aprecie a língua dantesca, mas principalmente pelo fato de que concorri com escritores italianos consagrados de várias regiões do país. Com isso, me tornei o único poeta brasileiro a vencer concursos literários na Itália, que é berço da civilização ocidental e valoriza como ninguém as expressões artísticas. Fiquei uma semana em Lecce (bem no salto da bota): dei entrevistas a TVs e jornais locais, bati um papo com acadêmicos da Università del Salento, fui recebido pelo prefeito e pelo presidente da província, conservei com artistas italianos supertalentosos, conheci o Mar Adriático, visitei lugares antiqüíssimos – o palácio onde aconteceu a cerimônia de premiação é da época do descobrimento do Brasil! – e, claro, comi muito bem. Além destes dois prêmios, também recebi outros em Portugal e no Uruguai. Confesso, porém, que as premiações na Itália têm para mim um gosto de superação: é que logo na primeira aula de italiano em 1996, meu professor disse que eu talvez não aprenderia tão bem o idioma quanto os demais alunos por não ser descendente. Ele estava errado.

"Ma se Le sembr'affronto
Le chie’dunque per corolle
che mi faccia almeno sole
e divento un bel tramonto"


7. Afinal, Capitu traiu Bentinho?

FÁBIO:Traiu. Aqueles "olhos de ressaca" nunca me enganaram.





 S   E   T  E
 PERGUNTAS PARA

JACINTO PEQUENINO
        Jacinto Pequenino  é  escritor moçambicano, missionário, filósofo, religioso e educador. Reverbera em si a hospitalidade do povo Africano, hospitalidade esta que herdamos deste povo alegre e fraternal. Publicou recentemente o livro “África a Caminho da Liberdade”, onde fala sobre a riqueza da cultura moçambicana e por extensão africana. Nasceu na cidade de Maxixe em 1984 e está no Brasil temporariamente,  cumprindo estágio de sua vocação religiosa pela instituição Sagrada Família. É membro da APEMO - Associação dos Pequenos Escritores de Moçambique, com a qual a APDARTES firmou termo de intercâmbio cultural. Sua escrita é rica, em uma mescla de palavras lusitanas com a linguagem brasileira, o que confere um sabor especial a sua literatura.Publicou o livro “O Tilintar de uma Vida Moçamundializada” (poesias), “O Convite da Desgraça” (romance), e em fase de publicação, “O Mundo AbenSuado” (romance) e “A Fúria do Perdão” (romance). Em suas linhas observa-se o engajamento na luta de afirmação da identidade do povo africano em face da globalização e da exploração colonial (que hoje de forma velada ainda existe). Pela leitura de suas linhas, substituímos nas entrelinhas, aquela visão equivocada da miséria como identidade primeira de Moçambique e da África como um todo. A riqueza cultural, natural e espiritual do povo Moçambicano é intrínseca a sua literatura.


1.Em seu livro recém lançado “África a Caminho da Liberdade”, você em dado momento explana que aqui no Brasil sempre te perguntam sobre a África e não de forma pontual a seu país.Corrigindo este nosso lapso perguntamos: Como é Moçambique?

JACINTO: Moçambique é um país como tantos outros que fazem parte do imenso continente africano.
É um país marcado por uma riqueza faunística e também por lindas praias que se espalham por quase todo o país.
Depois da independência colonial e da guerra civil tem mostrado a cada ano grandes avanços, porém ainda insignificantes comparados com a forma de vida que se tem levado.
A hospitalidade e o sorriso moçambicano é o verdadeiro timbre deste país que se localiza ao sul de África.
É um dos países pobres e um pouco conservador nas suas tradições.
Moçambique é um país democrático, que como Brasil, cada cidadão tem o direito de manifestar a sua liberdade de escolha., porém, não podemos pensar numa democracia igualitária.


2. Percebe-se em seu livro que a África é influenciada pela filosofia dos colonizadores, mas ao mesmo tempo você diz que não é preciso que a África tenha sua própria filosofia. Explique este pensamento?

JACINTO: A filosofia é expressão ou identidade desenvolvida enquanto se queira que ela seja, isto é, ela existiu como forma de organização de poder que por longos anos a depois da Grécia, o império Romano instituiu.
Europa esteve completamente subjugado sob esse regime e acompanhado com o grande poder eclesial conseguiu reencarnar a Filosofia como se fosse a forma de alcançar o poder e a hegemonia das suas colônias.
África esteve por longos anos “pagando” por não ser detentora da Filosofia. A escravatura veio como justificação desse pensamento (escravizar para salvar a alma e para civilizar a razão).
Muitos homens vieram de fora e já instruídos sob regime eurocêntrico viram-se obrigados a desconstruir as idéias vigentes, porém do mesmo modo mostravam que são pequenos imitadores dos chamados detentores da filosofia. Agiam como europeus e falavam como europeus.
O povo ficou novamente desconjuntado e se via de novo colonizado pelo irmão que se fazia filósofo.
O africano deve pensar partindo daquilo que ele é; não daquilo que o outro pensa que deve ser. E pensar num pensamento africano que seja capaz de construir as suas próprias nações é voltar a reintegrar os valores que a filosofia européia achou selvagens e desnaturados.  

3. A literatura africana que nos vem, é parte do folclore dos escravos-irmãos que para cá foram tragos á força, sendo uma literatura sem autores. J. M. Coetzee é o único escritor co continente que se fala por aqui. E a Moçambique, qual o expoente da literatura moçambicana?

JACINTO: Moçambique tem vários autores que se identificam como expoentes, devido à forma com que desenvolvem as suas obras. Porém, podemos destacar alguns, o chamado pai da poesia Moçambicana: José Craveirinha, a Noêmia de Souza; encontramos o mais conhecido Mia Couto, romancista que canta as belezas e as maravilhas de Moçambique, fazendo uma miscelânea entra o real e o fictício, temos o Aldino Muianga e a que chamo a grande identidade moçambicana, a Teresa Chiziane. 


“Entre róseas e plantas encantas
Ó minha lúgrube vitoriosa pátria.
Alteias-me sinceramente e me plantas,
Nessas tuas ondulações ó Moçambique.”


4. O que te move a escrever?

JACINTO: Escrever é a arte de boa expressão. Todas as vezes que escrevo alguma coisa, a minha tendência é de comunicar alguma coisa, seja duma forma real ou fictícia. Portanto, a minha grande intenção na escrita é a comunicação ou a transmissão de alguma coisa, ou de alguma novidade. Porém, essa transmissão sempre está misturada muitas vezes com a fantasia.

“O mundo avança sem nada
Levanta ventos e anda
Soletra letras duma fada
Tu que dormes”


5. Brasil e Moçambique tem a mesma alegria de viver, tem as mesmas belezas naturais, mas também problemas sociais idênticos. Se você tivesse o poder de escrever uma obra que fosse copiada para a realidade social de Moçambique, como seria esta obra?

JACINTO: Já pensei em reproduzir uma obra com o rosto moçambicano. De fato, estou terminando de escrever uma obra intitulada, a fúria do perdão. É um romance que contará a verdadeira história deste meu lindo Moçambique, uma história que nasce antes, no decurso e depois da guerra.

“Dedilho o destino
Dentro dum tempo vespertino
E gaguejo o caminho a tomar
Mesmo sem por ele galgar.”



6. O que mais te aflige no mundo literário moçambicano?

JACINTO: Moçambique tem um grande potencial em termos da literatura, porém nãos e dá a devida atenção, quer por parte do governo ou de outras edilidades competentes. Os pequenos escritores parece estão condenados a extinção.
É constrangedor ver o esforço de muitos jovens talentosos a se perder. È verdade que temos homens reconhecidos na arena internacional, porém deve se saber também que estes não devem ou não deveriam ocupar a universalidade da literatura africana porque  cada escritor tem a sua tonalidade literária.

“Saída encurtada
Entre pensamentos enturvados,
Em direção desconhecida,
lá vou eu saltitando.
(...)
Repesco a miséria inesgotável
E almejo ar agradável
Mas, sinceramente ronco
E ronco liberdade
Aonde afinal vou?”


7. Quais os seus sonhos e anseios?
JACINTO: Muita coisa! Mas o meu primeiro sonho é de tentar resgatar os valores moçambicanos a partir da cultura e da educação. Com o pequeno grupo formado por jovens “amadores” da literatura, pretendo resgatar o que se está a perder. Não será nada fácil devido ao custo de vida, porém a força e o interesse nos ajudarão a batalhar. Moçambique é um país com muitos centros históricos esquecidos e com muita informação escondida na boca dos velhos. Essa história deve ser escrita e divulgada. Deve ser conhecida. E o meu sonho é fazer conhecer o meu belo Moçambique.